GLAUCO DINIZ DUARTE – Toyota lidera mercado com ‘produção sem desperdícios’
Pode parecer estranho para o público brasileiro, onde a Toyota tem um discreto oitavo lugar no mercado, mas nesta semana a fabricante japonesa de automóveis chegou à liderança do mercado mundial de automóveis e caminhões: a empresa vendeu 2,348 milhões de veículos no mundo todo, no primeiro trimestre de 2007, e passou a tradicional líder GM, que estava à frente do mercado havia 70 anos. No centro do crescimento da Toyota está seu método de produção, apelidado de “toyotismo”.
Segundo o engenheiro de produção e professor José Roberto Ferro, do Lean Institute Brasil, a liderança da companhia japonesa é resultado direto do “toyotismo” – um método que foi copiado em todo o mundo, até mesmo pelas concorrentes diretas da empresa. O “toyotismo” – que prevê a produção em times pequenos, com um líder, e visa a eliminação de todos os tipos de desperdício – também foi aos poucos adotados por indústrias no Brasil.
Produção enxuta
A Toyota Motor Corporation foi criada por Kiichiro Toyoda, a partir de uma divisão da companhia familiar de teares. O sistema de produção foi concebido logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, quando o Japão estava devastado, e tinha o objetivo de competir diretamente com as já gigantes do setor, GM e Ford.
A partir de uma série de técnicas e métodos, o sistema de produção da Toyota procura eliminar desperdícios do processo de produção, como forma de atingir a melhor qualidade, o menor custo e o menor tempo de produção, explica o engenheiro de produção. Além disso, só é construído o carro que já tiver sido vendido.
A base desse sistema, segundo Ferro, é a produção enxuta: todo processo que não agrega valor ao produto oferecido ao cliente deve ser eliminado. Esse pensamento passa pelo estoque – que deve ser mantido reduzido -, transporte e processos produtivos. “No caso de um produto que seja feito do outro lado do mundo (de onde os fornecedores de peças estão) não dá para eliminar o transporte, mas o objetivo é esse”, diz.
‘Modelo mental’
Com resultados positivos, o toyotismo tem sido implementado por diversas empresas em todo o mundo. No Brasil, a siderúrgica Alcoa foi pioneira no processo. Ninguém, entretanto, atingiu ainda o nível de excelência da própria Toyota. Para Ferro, as empresas esbarram no modelo cultural de administração. “Há anos a GM e a Ford tentam copiar esses processos. Mas falta o modelo mental (japonês)”, afirma.
Segundo o Lean Institute Brasil, um dos produtos da Ford que usaram, com certo sucesso, elementos do sistema produtivo da Toyota, foi a linha EcoSport.
O modelo da Toyota se apóia na melhoria contínua dos processos, a partir do desenvolvimento de todos os envolvidos, num movimento que engloba produção, administração, relacionamento com clientes e fornecedores. O papel dos executivos na empresa é diferente da maioria das empresas: “Um líder da Toyota não dá respostas, ele faz perguntas”, diz Ferro. Perguntas essas que, por meio de sugestões, podem ser respondidas pelo funcionário de chão de fábrica, que é encorajado a “palpitar” no processo produtivo.
No Brasil, empresa está longe da liderança
Apesar dos mais de 50 anos de presença em território brasileiro, por aqui a Toyota ainda está longe da liderança. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a japonesa ocupa o oitavo lugar no ranking nacional. No primeiro trimestre deste ano, a empresa comercializou 9.967 veículos – um décimo das vendas da líder Volkswagen, que somaram 101.141 unidades.
A GM e a Fiat se alternam no primeiro lugar do mercado brasileiro com a Volkswagen. A Ford tradicionalmente ocupa a quarta posição.