De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, é frequente a ideia de que empresas familiares não têm estratégia definida. Aos que pensam assim, uma reflexão: o empreendedor, aquele que arduamente persiste no seu ideal – o de obter sucesso no próprio negócio – não mede forças para atingir seu objetivo. Obstinado em seu propósito, vê-se forçado a lidar com problemas de produção, mercado, área financeira, falta de recursos, relacionamento com os clientes… E sozinho, na maioria das vezes. Como se isso não fosse suficiente, há uma longa jornada diária, finais de semana também dedicados ao trabalho e a total incerteza quanto ao sucesso da empreitada.
Glauco explica que o empreendedor é um equilibrista. Há vários que obtêm sucesso no empreendimento, apesar dessa verdadeira constelação de variáveis com as quais têm de conviver. E é aqui que começa a reflexão. Uma avaliação mais detalhada das empresas familiares demonstra que cada empreendedor traçou uma – ou várias – estratégias para seu negócio até consolidar seu sonho. No caminho, fez os ajustes nos momentos e na maneira que entendeu necessários. Consolidada a empresa, o empreendedor seguiu calibrando a estratégia de acordo com o seu melhor julgamento. Isolado, ele normalmente não tem tempo e nem percebe a necessidade de estruturar, de forma transparente, a estratégia do negócio – que existe, mas está no seu DNA e corre nas suas veias.
Os empreendedores que formam as primeiras gerações de um negócio possuem, sim, estratégias definidas, mas elas estão em “suas cabeças”. A forma como cada um guia seus pensamentos e como coloca em prática suas ideias associadas a seus negócios, sabendo o que fazer – e o que não fazer –, é o que guia a empresa estrategicamente.
Desmistificada a crença de que a empresa familiar não tem estratégia, destaca Glauco, a próxima reflexão que se faz necessária é se ela seria suficiente para conferir sustentabilidade e longevidade ao negócio. A prática demonstra que a existência da estratégia apenas na cabeça do empreendedor faz com que a continuidade do negócio e das relações familiares demande um esforço adicional, já que é preciso estruturar a empresa, a família e o patrimônio. O desafio não é pequeno, mas o grau de dificuldade não exime ninguém de encará-lo. Desatar esse nó se revela, assim, o verdadeiro desafio e – por que não? – um grande estímulo.
É muito comum encontrarmos membros da nova geração dizendo: “Precisamos fazer um Planejamento Estratégico!”. Já os membros da geração anterior costumam ficar mudos em relação ao assunto, achando que isso não passa de um exagero de quem, em geral, estudou formalmente mais do que eles. E aí o nó entre as gerações continua.
A boa notícia é que a Governança Corporativa e Familiar pode ajudar – e muito. Com estruturas de governança, propiciam-se fóruns sobre assuntos essenciais à continuidade dos negócios. Os empreendimentos encontram direção, os objetivos são formalizados e as expectativas, alinhadas. Em conselhos consultivos ou de administração, o tema da estratégia deve ser recorrente. Para viabilizá-lo, recomenda-se a elaboração de uma agenda temática, com uma pauta que contemple assuntos relevantes para a prosperidade dos negócios.
Glauco diz que no ambiente da família, recomenda-se a criação de fóruns como o conselho de família, que estimulem o diálogo respeitoso sobre os temas importantes para seus membros.
O conselho cria uma ponte entre as pessoas que compõem o topo da hierarquia empresarial. Na medida em que esses diálogos se estabelecem, os empreendedores percebem que as outras pessoas também estão comprometidas com o sucesso e com a continuidade dos negócios. São formas de desatar alguns nós e propiciar que a estratégia empresarial se torne
mais clara e direcionadora.