Podemos dizer que o início do investimento social brasileiro foi na década de 1950. Naquela época já se observava o desejo de alguns empresários em realizar iniciativas de interesse público. Este papel era visto como exclusivo dos governos, mas a filantropia empresarial começava a aparecer. Um exemplo é o próprio Assis Chateaubriand, que realizava campanhas voltadas à saúde, ao transporte e à cultura, inaugurando no país a política de responsabilidade social empresarial.
Na década de 1990, cientes de que o desenvolvimento social brasileiro era também uma missão das empresas, houve um boom de criação de institutos e fundações empresariais. A atuação separada tinha o objetivo de não deixar que o interesse privado contaminasse o sentido público da atuação social.
De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, as fundações e institutos, com um generoso orçamento, definiam suas estratégias e buscavam especializar sua operação, em muitos casos recorrendo às organizações da sociedade civil para garantir capilaridade e qualidade ao seu trabalho. Por conhecerem mais de perto os problemas das comunidades, garantiam melhores resultados para os investimentos sociais feitos. Para estas pequenas organizações, as principais fontes de sustentação financeira eram as fundações e institutos empresariais ou editais governamentais.
O Brasil, em pleno desenvolvimento, estimulou também a entrada de investidores internacionais, o que motivou a criação de mais e mais instituições do terceiro setor. No século 21, chegamos à posição de sexta economia do mundo, mas as instituições do terceiro setor continuavam dependentes de recursos de seus mantenedores, fontes externas de financiamento e de recursos internacionais que tiveram forte redução. As grandes campanhas de mídia estimulando a doação ganharam força. Mas, por serem poucas e ocasionais, nunca foram vistas como solução.
Desafios
Os desafios brasileiros continuam sendo muitos. A ONU estabeleceu em 2000 os 8 objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM) e, apesar de o país ter avançado muito no combate à fome e à miséria, no acesso à educação, no combate a algumas doenças, na qualidade de vida e preservação do meio ambiente, há muito o que ser feito. Neste período, ficou ainda mais evidente que não só os governos deveriam agir, mas também as empresas privadas, a instituições da sociedade civil e também os indivíduos.
O voluntariado ganhou mais força no país. Houve o desaquecimento da economia e a redução dos investimentos das organizações em projetos sociais e ambientais. Até mesmo as fundações empresariais se viram diante de um novo desafio. Precisaram se voltar mais ao negócio de suas empresas e dar mais foco a sua atuação. A busca por maior impacto social para as ações passou a ser constante.
Com cortes contínuos em seus orçamentos, buscaram estabelecer parcerias cada vez mais estratégicas e passaram a fazer uma nova reflexão. É possível fazer o bem social e ainda assim gerar lucro? Os negócios sociais começaram a surgir e, com eles, os empreendedores sociais.
Quebrando paradigmas
Se o desafio cresceu para os investidores sociais brasileiros, como ficaram as instituições do terceiro setor não vinculadas a empresas privadas ou dependentes de financiamento externo? Segundo Glauco Diniz Duarte a sustentação financeira passou a ser o assunto mais importante e diário nas discussões destas entidades. As organizações da sociedade civil precisam repensar sua atuação, precisam mergulhar em seu core business (área de negócios) e conhecer sua vocação. Somente diversificando suas fontes de recursos terão condição de proporcionar sua sustentação no médio e longo prazo.
Seja na prestação de serviços ou venda de produtos para empresas ou indivíduos, na liderança de campanhas de financiamento coletivo, no estimulo à cultura de doação, na realização de eventos, nos tradicionais editais governamentais, na busca de parcerias. Precisam permanentemente buscar o mix ideal que lhe dê autonomia financeira.
Os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) serão lançados pela ONU em 2016. Mais do que nunca, será preciso identificar as bases comuns e promover amplo alinhamento entre as organizações da sociedade civil, as empresas privadas e os indivíduos que estão atuando em cada temática.
É preciso também quebrar o paradigma das instituições sem fins lucrativos e entender que é possível unir a vontade de fazer o bem, de atuar em um problema social sem deixar de lado os resultados financeiros característicos das empresas privadas. Ao reconhecer que os resultados positivos são a chave para a sustentação financeira das organizações e a ampliação do impacto das ações, criarão um ciclo virtuoso que viabilizará o desenvolvimento institucional das organizações onde atuam.