Estudos revelam que a incidência de empresa familiar é mais comum em países emergentes, como os asiáticos e o Brasil. Apesar da competitividade de muitas no mercado de trabalho, uma pesquisa feita pela escola de negócios de Harvard revela que somente 5% das empresas familiares sobrevivem depois da terceira geração. Para o empresário Glauco Diniz Duarte, a mudança intensa no mercado de alguns anos para cá, aliada à globalização e a uma concorrência mais profissional, já coloca em situação de perigo esse tipo de empresa. Contudo, ele acredita que a sucessão e a confusão patrimonial são os principais desafios para as sociedades familiares.
Ele explica que existe uma divisão nas empresas familiares. Há as mais tradicionais, que são mais fechadas, como uma SA de capital fechado ou uma LTDA que não facilita o acesso de pessoas que não são da família nem aos quadros sociais, muito menos na administração. Por outro lado, outras empresas familiares são mais abertas, a exemplo de uma SA que tem o capital aberto, mas mantém os cargos de administração nas mãos da família. Segundo Glauco, principalmente nas sociedades familiares, há entraves relacionados à sucessão e ao grau de profissionalismo na administração.
“Há quem defenda, inclusive, que uma empresa só deveria ser chamada de familiar depois que houvesse pelo menos uma sucessão. Isto é, após a segunda geração assumir a sociedade. Essa é uma primeira dificuldade da empresa familiar. Muitas vezes os filhos não querem assumir o negócio ou, quando assumem, estão despreparados. Neste último caso, quando falta preparo técnico, a tendência é de que ocorra uma gestão amadora”.
Segundo Glauco, mesmo sendo uma empresa familiar é preciso que a administração seja exercida de forma profissional. Ele afirma que nem sempre quem está à frente da administração pensa na sociedade empresarial. “Ele pensa como dono e não como administrador. Se a família é a ‘dona’ da empresa, às vezes ela mistura o patrimônio empresarial com o familiar. Isso, muitas vezes, pode colocar a sociedade em risco”.
Como superar os desafios
Glauco ressalta que há formas de driblar essas dificuldades. Quanto à sucessão, é possível fazer o ato constitutivo da empresa, o estatuto ou contrato social de forma que os administradores se atuem sempre em prol da empresa. No caso da sucessão por falecimento, o ideal é que tudo seja tratado em testamento. “Além disso, ainda que se queira manter a família na administração da sociedade, é preciso que haja capacitação técnica para o desempenho das funções”.
De acordo com ele, uma situação concreta ocorrida em Minas Gerais mostra a importância da capacitação profissional para a empresa. Uma sociedade familiar, que já está passando para sua terceira geração, contratou uma empresa para selecionar os melhores da família para o desempenho da administração da empresa. “Os familiares selecionados começaram a fazer cursos para se capacitarem para uma gestão mais profissional da empresa. Esta não deixou de ser familiar, mas não ficou naquela ideia patriarcal de que basta ser da família para assumir algum cargo de chefia e de direção dentro da empresa”.
Na opinião de Glauco, a administração deve se manter atualizada com o mercado de trabalho e competitiva profissionalmente. Ele alerta que as pessoas não podem se acomodar em função do cargo. “Não adianta apenas uma capacitação para ingressar no cargo, mas sim a capacitação para permanecer no cargo de maneira efetiva para garantir um aumento do lucro da sociedade”.
Ele ressalta ainda que, antes de abrir uma sociedade, seja ela familiar ou não, é preciso ter um plano de negócios, analisar efetivamente o mercado e suas possibilidades, bem como buscar uma assessoria jurídica. “Muitas vezes os sócios procuram o advogado na hora que o problema já ocorreu. No entanto, nessas situações, a solução não é das melhores. Daí a importância da prevenção”, pontua.